quinta-feira, janeiro 13, 2005

PRESENÇA




A velha e já batida idéia do ?caminho do meio? já apresentada por Aristóteles e tão difundida pela cultura oriental é formidável. Não vou discorrer sobre a teoria, mas vou tratar de uma aplicação prática.

Há tempos pensava que não deveria me intrometer na vida das pessoas, mesmo quando não estavam muito bem, pois acreditava que poderia estar invadindo sua privacidade e me tornando inconveniente. Receava, por não entender exatamente o que se passava na cabeça das pessoas, que eu pudesse dar conselhos equivocados ou que expusesse teorias e idéias que não se aplicariam à situação. Quem garantiria que o que eu penso é o melhor para aquela pessoa?

Mudei. Um grande amigo me ajudou muito nisso. E sou muitíssimo grato. Ele sabe disso.

Pois é...

Conversei com um amigo que passa por uma situação difícil. A princípio ele não estava muito à vontade para falar. E era isso o que estava me angustiando mais. Afinal, eu havia descoberto que eu deveria, sim, me intrometer na vida das pessoas para ajuda-las. E como fazer isso se eu não conseguia achar uma brecha para agir?

Quando começou a conversa tive uma grata surpresa. Ele estava mal realmente, mas se encontrava perfeitamente centrado. Estava reagindo bem à situação. Essa constatação me ?quebrou as pernas?. Estava pronto para despejar um monte de teorias e idéias a respeito do que estava acontecendo. Dizer o que achava que deveria ser feito ou pensado. Intrometer-me realmente e talvez mostrar uma realidade que era real apenas na minha concepção. No afã de ajudar, eu estaria sendo inconveniente, pois estaria repetindo coisas que meu amigo estava cansado de ouvir. Percebi que ele está muito lúcido e já está fazendo muita coisa para tentar resolver sua situação. Minha insistência no assunto não seria mais do que uma encheção de saco e uma pressão desnecessária. Talvez a forma que ele esteja fazendo as coisas não seja a ideal, mas quem sou eu para julgar? Quem sou eu para saber?

A sua reclusão momentânea estava perfeitamente explicada e justificada. Eu estaria mesmo sendo inconveniente como acreditava que eu poderia ser ao me intrometer na vida das pessoas. Ele queria um tempo para pensar sem ter que ouvir teorias e mais teorias. Ele já conhece as teorias e tem as suas próprias. O que ele estava fazendo era simplesmente pensar sobre elas e sobre a situação que está vivendo. Ele não estava remoendo suas mágoas e decepções, mas estava (e ainda está) traçando uma estratégia para sair dessa.

E agora? Deveria voltar para minha posição anterior? Não deveria mais tentar ajudar?

Não! Devo estar cada vez mais presente na vida de meus amigos. Só não devo me intrometer. Devo participar. E isso se traduz em ouvir, principalmente. E, na hora de dar opiniões, ser moderado. Eu nunca saberei exatamente o que se passa no íntimo das pessoas, mas estarei sempre presente para ouvir e perguntar se concordam com uma idéia que eu possa vir a ter. E ressalto: perguntar não é nem sugerir, porque ao perguntar se concorda com uma idéia, eu estou dando mais espaço para que a pessoa reflita e tire suas próprias conclusões. Sugerir simplesmente pode passar a impressão de que estamos passando uma receita de bolo do qual nem mesmo conhecemos todos os ingredientes.

Voltando ao nosso amigo Aristóteles, o meu melhor posicionamento com relação a essa questão se encontra no meio-termo. Talvez fosse necessário definir uma palavra para esse meio-termo. Será que existe algum? Diria que presença seria o meio-termo entre ausência e intromissão.

A meu grande amigo com quem conversei ontem, meu muito obrigado. E não se esqueça que estou e estarei sempre presente. Estou aqui para participar. Espero também ter contribuído com alguma coisa com a nossa conversa.

Graças a dois grandes amigos, consegui chegar ao meio-termo. Puxa... Que conquista!


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