A BENÇÃO
Durante muito tempo pensei em como seria importante que tratássemos continuamente de nosso espírito, não apenas em locais de cunho religioso como igrejas, templos, mas principalmente durante todo o nosso dia, em qualquer lugar que estejamos. Não quero dizer que não penso mais nisso, mas há um tempo cheguei até a ler alguma coisa sobre esse assunto. Li três livros muito interessantes que abordavam a questão do espírito no ambiente de trabalho:
• Hawley, Jack. O Redespertar Espiritual no Trabalho;
• Chapel, Tom. A Alma do Negócio;
• Peters, Tom. A Nova Alma do Negócio.
De alguma forma ainda tenho buscado estudar alguma coisa relacionada. Talvez seja por isso que tenho andado tão interessado em temas como responsabilidade social e ética empresarial, cidadania e trabalho voluntário.
Bom, hoje voltei a pensar neste assunto. Não foi à toa. Ocorreu um fato bastante interessante no escritório em que trabalho.
Frase enviada pela secretária da Diretoria através de correio eletrônico, hoje pela manhã, a todos os funcionários:
“Informo a todos que hoje às 14h30 virá o Padre Carlos benzer a empresa”.
Fiquei feliz pela iniciativa. Fiz questão de participar, apesar de não ser católico. Afinal de contas, tratava-se de um momento em que poderíamos unir os pensamentos em torno de algo positivo, benéfico para a empresa e para todos os seus funcionários.
Logo que o padre chegou, fomos todos convidados a ir para uma sala onde seria realizada a benção. Ninguém foi obrigado a participar, apesar do convite feito a cada um, diretamente pelo diretor da empresa.
Todos reunidos na sala prontos para começar. Faltava apenas um dos gerentes. Ele é novo na empresa. Um de nós, vendo que esta pessoa não estava presente, resolveu sair da sala para chamá-lo. Pensou: “Esquecemos de chamá-lo! Ele é novo na empresa”.
Enquanto isso, o padre começou a falar:
- Todos são católicos?
Quase todos disseram que sim. Outros não se manifestaram, como eu, pois não achei que se tratava de um aspecto relevante naquele momento.
- Alguém aqui é evangélico? – perguntou o padre. Novamente, ninguém se manifestou.
O padre continuou:
- Pois é. Vocês são católicos apostólicos ou “afastólicos”? Não sei se vocês sabem, mas católico não praticante acaba recebendo um castigo de Deus. Eles viram crentes, evangélicos.
Nisso, chega na sala aquele gerente. E o padre não interrompe o seu discurso:
- Quem não gostaria de ter uma empresa como a Igreja Universal do Reino de Deus? Trata-se de uma empresa lucrativa. Uma empresa que não paga impostos.
O ataque aos evangélicos continuou e o diretor complementou:
- Eu queria era abrir uma filial da Igreja Renascer. É a mesma coisa.
Alguém lembrou que o tal gerente não era católico. Na verdade, ele não pensava em participar dessa reunião com o padre. Ficou constrangido com mais um convite e resolveu participar. Ele freqüenta a Igreja Presbiteriana.
Percebendo a situação constrangedora, apesar de não estar desferindo ataques diretos à Igreja Presbiteriana, o padre resolveu abrandar o discurso:
- Existem as igrejas sérias, como a Presbiteriana, por exemplo. – o padre fez um discurso, do qual não me recordo na íntegra, explicando como algumas religiões são sérias e merecem respeito. Aproveitou e reafirmou que igrejas do tipo da Renascer e Universal são exploradoras.
Passado o constrangimento, o padre leu alguns trechos da Bíblia exaltando a Lei do Trabalho e aproveitou para pedir proteção a todos na empresa. Felizmente, o momento serviu para que pensássemos um pouco mais na harmonia e objetivos do nosso trabalho.
Terminada a “celebração”, “culto”, “benção”, ou seja lá o que for, o diretor da empresa disse:
- Eu acho importante que pensemos um pouco no espírito. Precisamos reservar um pouco do nosso tempo para isso. Não quero saber se todos acreditam, mas eu acredito. E, felizmente, como detenho o poder aqui dentro da empresa, pois sou diretor, decidi chamar o padre aqui hoje.
Gargalhadas. Foi esse o resultado da colocação final do diretor.
Considerei muito válida a iniciativa, porém tive a nítida sensação de que as pessoas estavam lá apenas de corpo presente. Posso estar enganado, mas fiquei com esta impressão. Algumas pessoas comentaram que acharam absurdas as colocações do padre ao criticar outras crenças. Muitos vão lembrar do ocorrido pensando apenas em como foram feitos comentários estúpidos durante o evento.
Talvez, se o mesmo trabalho fosse feito sem referências diretas a algumas religiões... Talvez, se focássemos apenas o amor, os conceitos morais e éticos envolvidos no nosso trabalho...
Cuidar do espírito no trabalho é cuidar de nossas atitudes ao executar nosso trabalho. É criarmos amigos de trabalho e não apenas colegas de trabalho. É trabalhar pensando no bem comum. Nada mais do que isso. Pelo menos, essa é a minha opinião.
De qualquer forma, valeu a tentativa.
sexta-feira, maio 23, 2003
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