sábado, junho 28, 2003

O CÁGADO

Logo que acabei de escrever o post anterior, li um conto interessantíssimo de José de Almada-Negreiros entitulado "O Cágado". A leitura me fez pensar ainda mais no que escrevi e lembrei que deveria ressaltar mais uma coisa.

Antes, porém, um breve resumo (vale a pena ler o conto inteiro depois, pois a narrativa é muito engraçada):

Um "homem muito senhor de sua vontade" (esta expressão é repetida diversas vezes no texto) andando encontrou um cágado. Achou interessante e pensou em contar para a família o que vira na hora do almoço. No entanto, pensou que talvez não acreditassem. Por isso, voltou determinado a pegar o cágado para que tivesse uma prova do que vira.

O problema todo começou quando chegou ao local e não viu mais o cágado. Ele havia adentrado em sua toca. Ele tentou alcançá-lo com as mãos enfiadas no buraco. Não conseguiu. Tentou com uma vara. Não conseguiu. A vara caiu pelo buraco. Pensou em jogar água pelo buraco para forçar a saída do animal. Depois de vários baldes, viu que não adiantava. Pensou em desistir, mas como era tão senhor de sua vontade, continuou. Resolveu cavar. Pegou uma pá e começou. Várias pazadas. Ele continua. Chega a um ponto, depois de muito esforço sem encontrar o cágado, em que atinge o outro lado da Terra. Lá ele percebe que deve andar de cabeça para baixo. As coisas do outro lado eram muito estranhas. As pessoas nem falavam pela boca. Usavam o nariz para se comunicar. Bateu uma saudades de casa, de sua cama, de sua família. Não achou o cágado e voltou pelo buraco que havia escavado. Chegando lá em cima percebeu que o monte de terra originado de sua escavação havia formado o maior monte da Europa. Infelizmene, sua casa havia sido soterrada. A cidade inteira havia sido soterrada. Começou a devolver a terra para o buraco com o intuito de voltar para casa. Depois de haver praticamente terminado o trabalho estava cansado, mas desta vez, o trabalho teria valido a pena. Poderia voltar para casa. Restando apenas um último torrão de terra a ser devolvido ao seu lugar, percebeu que ele se mexia. Era o cágado.

Lembrei do post anterior porque acho que tão importante quanto acreditar na grandiosidade daquilo que podemos fazer, precisamos saber o que fazer. A definição do objetivo. Quando aquilo que almejamos vale a pena, quando é bom, somos capazes de remover montanhas, ou montes de terra. Whatever...

Nós conspiramos ao nosso favor e o universo também conspira a nosso favor.

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