O CONTO
A versão final conto já foi publicada lá no A Criatura e a Moça. Como havia prometido à Moça, escrevi uma outra versão. Parti do ponto em que eu havia parado.
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Acordou no meio da noite. A cabeça doendo. A boca seca. Maldita bebedeira, ainda pensou. Levantou ainda tonto, cambaleando, caminhou até o banheiro. Tropeçou em alguma coisa, no meio do caminho. Xingando, acendeu a luz. E qual não foi sua surpresa quando viu o tal objeto. Uma pequena pistola. Como? Ele não tinha armas. Não conhecia quem tivesse...
Segurou a pistola. O que acontecera na noite passada? Não lembrava. De nada. O estômago parecia dar sinais de vida agora. Excesso de álcool, sem dúvida. Precisava vomitar! Correu para o banheiro e não pôde conter um grito de surpresa, ao abrir a porta e encontrar, no espelho, escritas com batom, as seguintes palavras: Você nunca saberá. Sua surpresa foi tão grande que nem lembrou da vontade de vomitar, ficou ali olhando para as palavras no espelho, por trás delas via sua imagem refletida. Cabelos desgrenhados, rosto inchado, enfim, cara de quem passara a noite bebendo sem parar, e ficou ali pensando, o que queriam dizer aquelas palavras? Quem as escrevera? Que revólver era aquele? E nada, nada lhe vinha à mente. Nem um fiapinho de memória do que acontecera...
Uma provocação. Sim! Uma provocação. Como poderiam provocá-lo assim? Ele precisava saber. A vontade de descobrir o que havia acontecido, que em poucos instantes já se tornara uma obsessão, lhe perturbava a mente. Seja lá quem for, a pessoa que deixou aquelas palavras no espelho, deveria saber disso. Sabia que não sossegaria enquanto não desvendasse aquele mistério. De repente, ele começa a ouvir altas gargalhadas que vinham lá de fora. Não pensou duas vezes. Correu em direção à porta do jeito que estava e saiu. Com a arma na mão.
As gargalhadas haviam cessado. Ele se vê em um grande corredor cheio de portas parecidas com aquela da qual havia saído. Algo que lembrava um hotel, ou melhor, um hospital, pois o piso era todo vinílico. Só agora notara que estava em um ambiente desconhecido. Onde estaria?
De repente, avista um homem todo de branco no final do corredor. O homem, ao vê-lo, sai correndo e entra por uma porta. Ele sai atrás, ainda com a arma na mão. Uma mulher, porém, surge subitamente e tenta abordá-lo. Movido pelo impulso, ele dispara a sua arma em direção à Moça.
Com o coração batendo em um ritmo alucinante, ele percebe que a arma se encontrava descarregada e ouve a mulher dizer – Calma! Calma! Venha comigo. – Querendo a resposta a inúmeras perguntas, ele a segue, contudo, sem proferir uma única palavra.
Para sua surpresa, ao entrar pela porta por onde o homem de branco escapara, ele vê seus amigos que haviam saído com ele na noite anterior. A mulher, percebendo seu espanto, começa:
- Ontem fomos ao bar onde você estava com os seus amigos. Percebemos que estava alcoolizado e fizemos uma proposta a seus amigos. Traríamos vocês aqui em troca de uma boa quantia em dinheiro. A proposta foi aceita e colocamos você em um quarto simulando uma situação de alto impacto psicológico. Estamos fazendo uma pesquisa sobre o comportamento humano. Infelizmente, cometemos um erro. Seus amigos, que assistiam a tudo, começaram a rir da sua situação. Na verdade, gargalhavam. Isso chamou sua atenção e, como esquecemos de trancar a porta do seu quarto, você saiu e o experimento foi interrompido.
Terminada a explicação, ele, com um certo alívio associado a uma certa revolta por ter sido ludibriado, observou uma sala toda envidraçada onde uma dúzia de pessoas sentadas escreviam, como se estivessem passando por um exame escolar. A mulher explicou:
- Ah, este é outro tipo de teste. Apresentamos àquelas pessoas um texto, para que dessem continuidade à história. O texto é mais ou menos assim:
Acordou no meio da noite. A cabeça doendo. A boca seca. Maldita bebedeira, ainda pensou. Levantou ainda tonto, cambaleando, caminhou até o banheiro. Tropeçou em alguma coisa, no meio do caminho. Xingando, acendeu a luz. E qual não foi sua surpresa quando viu o tal objeto. Uma pequena pistola. Como? Ele não tinha armas. Não conhecia quem tivesse...
quarta-feira, outubro 29, 2003
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