segunda-feira, março 05, 2007

O MORALISMO NO MEIO DO CAMINHO

Ética...
Felizmente, trata-se de um termo cada vez mais em voga.
Vivemos uma época em que as pessoas parecem despertar para a necessidade de adotar posturas éticas em todos os campos de sua experiência.

Mas há um obstáculo a superar. Algo que transita no terreno da ética, mas que pode se escamotear e servir como uma verdadeira armadilha: o moralismo.

Se existe uma moral absoluta (e acredito que exista...), não há ser humano que a conheça. E o problema, o tal do moralismo, surge quando alguém se acha capaz o bastante de definir o que é certo e o que é errado. Pior: de estabelecer quem é certo e quem é errado. O moralista torna-se o juiz que julga, condena e, muitas vezes, até executa a sentença.

Uma pessoa de bom senso difere do moralista justamente por reconhecer a sua incapacidade de julgar e saber que os padrões humanos de bem e mal mudam constantemente na medida em que a sociedade evolui e entende melhor o que chamamos de moral. Está sempre pronto a reconsiderar suas posições e busca ouvir diversas opiniões sobre o assunto em questão.

E o moralista, em geral, ainda é superficial. Dificilmente procura ir mais a fundo em uma discussão. Seja lá qual for a questão em evidência, ele poupa investigações e reflexões. Afinal, ele costuma ser tão cheio de si, que não vê necessidade de se aprofundar. Nem parece ter paciência para isso. Na sua visão, já sabe quem está errado e até quais seriam as suas motivações para o erro... Motivações imaginadas que não surgem de lugar algum que não seja de uma mera especulação, na maioria das vezes, fantasiosa.

É verdade que nem todos são tão prepotentes assim, mas quando não são, mostram-se apenas como meros repetidores de padrões, sem senso crítico. Um ranço cultural autoritário e coercitivo parece tê-los dificultado a busca por horizontes mais amplos. Moralistas defendem regras sociais estabelecidas e dificilmente as questionam. São capazes de manter uma norma ultrapassada intelectual e moralmente simplesmente por sofrerem desta limitação para ir além.

Sendo superficial, o moralista se apega à forma e, como conseqüência, despreza o conteúdo. É comum que seja educado e que faça belos discursos... A polidez costuma ser a sua marca. Suas ações, contudo, nem sempre refletem as palavras que proferem.

Nos julgamentos que realiza, o moralista ainda procura argumentar logicamente, mas costuma abusar de falácias. Busca frases soltas de grandes personalidades para buscar legitimidade, mas normalmente fora de contexto. Tenta minar a credibilidade daquele que o contesta, reforçando o seu julgamento moralista. Mas faz isso apenas baseando-se no seu próprio julgamento, que afirma que o outro não tem condições para refutar este mesmo julgamento.

E o que importa para o moralista?

Por mais curioso que pareça, não é a moral. O importante para ele é que as pessoas sigam as regras que eles consideram certas e que ele se sinta bem, ou para ser mais exato, se sinta bom. E o foco é no comportamento alheio! Devem zelar pela moral e pelos bons costumes. De olho no outro, se esquiva de pensar em si mesmo, sobre o seu próprio comportamento ético. E ainda se sente bem, porque, na sua cabeça, ainda está agindo bem e sua consciência tende a ficar tranqüila. Afinal, está buscando que as pessoas ajam corretamente...

E a ética que tanto procuramos? Como fica?

Fica sufocada pela forma e pela superficialidade...

E é por isso que eu digo que o combate ao moralismo, para que a ética finalmente desabroche, só se dá por meio do incentivo ao pensamento crítico e pela vivência verdadeira das virtudes, principalmente o amor pelo próximo. O amor que rompe as barreiras das máscaras, da polidez.

Que possamos sempre buscar a moral, orientados pela ética e esquivando-nos do moralismo...

Um comentário:

da mãe coruja disse...

Que profundo, meu amigo! Acho que você deveria fazer o curso de filosofia espírita, ao invés do que te indicaram...

Infelizmente o moralismo está arraigado em nossa cultura e, para extirpá-lo, ainda vamos ter que caminhar uns bons anos, quiçá encarnações.

Mas colocar o assunto em voga é sempre uma forma de aprendizado, de reflexão... Por isso, tô contigo e não abro!

Adoro você e sua família linda!

Bjs, Cris