terça-feira, julho 29, 2003

AH, O LUCRO...


O que você faria se tivesse uma empresa?
Qual seria seu objetivo?

Seria algo voltado ao aumento dos lucros? Seria esse o principal objetivo da empresa?

Ontem, em uma aula, tratávamos sobre missões e visões de empresas. Um dos alunos disse que não concordava com missões vagas de empresas e que todas deveriam refletir o objetivo principal: o lucro.

Será?

Nestas horas, penso como é preciso quebrar alguns paradigmas. É verdade que a esmagadora maioria dos empresários pensam assim. Não sou ingênuo a ponto de imaginar o contrário, mas há uma distorção aí.

Por exemplo:
Qual seria o objetivo de uma fábrica de calçados? Lucro?
Eu ainda acho que deveria ser fabricar calçados...

Quanto tempo da nossa vida passamos trabalhando dentro de empresas? Nestas horas esquecemos quem somos? Esquecemos para que trabalhamos?

Coincidentemente, li um texto, hoje no Fagulhas, que ilustra a postura de muitos, quando “vestem a camisa da empresa”, principalmente se forem os próprios donos ou acionistas:

“Uma vez perguntaram ao Buda:
- O que mais o surpreende na humanidade?
E ele respondeu:
- Os homens que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido”.


Na busca do lucro pelo lucro esquecemos da vida. Esquecemos de olhar ao nosso lado e estender a mão. Esquecemos de buscar nossos valores. Esquecemos de amar e compartilhar alegrias.

Em nenhum momento tenho a intenção de dizer que é ruim ter dinheiro. Seria muita hipocrisia de minha parte. No entanto, acho que não é isso que devemos almejar. Devemos concentrar nossos esforços na busca por um mundo melhor. Empresários, com dinheiro suficiente, podem propiciar empregos, oferecer bons produtos e serviços ao mercado e até promover ações de cunho social. O lucro serve para permitir a sustentabilidade da empresa e dar um retorno razoável aos acionistas. Razoável, não exorbitante.

Felizmente, acho que as coisas caminham neste sentido. Talvez de maneira lenta, mas caminham. Empresas formadoras de opinião já tratam com cuidado o tema de responsabilidade social. Quase todas fazem isso para melhorar sua imagem institucional, mas já é um começo. Uma vez ao assistir a uma palestra no SENAC, no Fórum Permanente do Terceiro Setor, o palestrante disse que no início as empresas tomariam atitudes deste tipo buscando autopromoção. No entanto, uma vez engajadas em causas sociais, seriam contaminadas por uma sensação de humanidade. Isso daria início a um “círculo virtuoso” que só alavancaria mais e mais ações de cidadania empresarial. No futuro, claro... No futuro...

Mas já foi dado um pontapé inicial. Se cada um de nós tomarmos consciência disso, mais rápido chegaremos a esta condição. Vocês acham que estou delirando? Não estou, não.

Li um livro chamado a “A Alma do Negócio” de Tom Chappel. Esse cara é dono de uma empresa de produtos de higiene pessoal. A sua visão é fantástica. Ele toca a empresa com base em valores verdadeiramente humanos. A empresa existe mesmo. Podem acessar o site e comprovar o que estou falando:

Tom´s of Maine

A sua filosofia é:

“Do what is right, for our customers, employees, communities and environment”
(Fazer o que é certo para os nossos clientes, empregados, comunidade e meio ambiente)

O propósito da empresa é:

“To serve our customers' health needs with imaginative science from plants and minerals
(Atender às necessidades de saúde dos clientes através de uma ciência criativa baseada em plantas e minerais)

To inspire all those we serve with a mission of responsibility and goodness
(Inspirar todos aquelas a que servimos com uma missão de responsabilidade e bondade)

To empower others by sharing our knowledge, time, talents, and profits, and
(Fortalecer os outros compartilhando conhecimento, tempo, talentos e lucros, e)

To help create a better world by exchanging our faith, experience, and hope”
(Ajudar a criar um mundo melhor compartilhando fé, experiência e esperança)


Gostaria de ter uma empresa só para provar que é possível fazer muito sucesso com esse tipo de visão. Tenho certeza disso.

Estamos no caminho do despertar da consciência do ser humano, mas cada um de nós precisa ajudar a impulsionar este movimento. Eu vou fazer minha parte. Não sei bem como ainda, mas vou.

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