quinta-feira, julho 24, 2003

A CIÊNCIA E O ESPÍRITO


Ontem acessei o Jesus Me Chicoteia. Uma discussão bastante interessante sobre ciência e religião, existência de Deus e coisas do tipo. Gosto muito deste tipo de discussão e algo que me chama atenção são alguns preconceitos em relação ao assunto.

De um lado materialistas radicais, de outro religiosos fanáticos. Acho que devemos nos livrar de idéias preconcebidas em debates como esses.

Afirmações do tipo “Deus não existe”, “Religião é uma fuga” são tão radicais quanto aquelas do tipo “Nada acontece sem a permissão de Deus” ou “É assim, por que está escrito na Bíblia”.

Acho que um dos grandes diferenciais do homem em relação aos outros animais é sua capacidade de pensar. No entanto, sem perceber, limitamos nosso pensamento a certos paradigmas.

Tendemos a misturar conceitos. Aos materialistas soa absurda a hipótese de existência do espírito, por exemplo. Não me conformo com isso, pois essa hipótese é refutada sem justificativas plausíveis. É como se dissessem: espírito não existe porque não existe.

Lendo um dos comentários no Jesus Me Chicoteia, vi a seguinte afirmação do Marco Aurélio (Marco, espero que você não se incomode por eu ter transcrito isso aqui):

“Mesmo sem acreditar em deus, procuro manter o espírito sadio (mesmo acreditando que "espírito" nada mais é que uma série de reações químicas dentro do cérebro) ajudando as pessoas ou escrevendo minhas coisas”.

Gostei das argumentações do Marco Aurélio e achei boa parte da discussão bastante inteligente. A postura de ajudar os outros é o que realmente tem valor e acho que não importa mesmo acreditar ou não em Deus, se adotamos essa postura. No entanto, acho que a frase que transcrevi apresenta um grande equívoco: a hipótese de existência do espírito como algo que sobrevive ao corpo é simplesmente ignorada. Por quê?

Muitos desenvolvem teses mirabolantes para provar a não existência do espírito. Às vezes, é mais difícil de acreditar nelas do que na possível existência do espírito. O problema é que já se parte do princípio de que o espírito não existe e pronto. Por que a existência do espírito não poderia ser levada em conta em um estudo científico? Se o espírito realmente existe (e acredito nisso racionalmente), alguns cientistas não estariam barrando o desenvolvimento do conhecimento humano ao não admitir essa hipótese em seus estudos?
Eu acho que sim.

Felizmente, já existem estudos sérios a respeito do assunto. A reportagem da Folha de São Paulo que transcrevo a seguir é um exemplo de como essa discussão é séria e está evoluindo.

Obviamente, dogmas religiosos devem permanecer de fora desta análise. Reparem, no último parágrafo, na declaração da Dra. Regina Parizi. Quem disse que a questão da existência do espírito é apenas religiosa? É claro que, uma vez verificada cientificamente a existência do espírito, questões religiosas e filosóficas são levantadas, mas isso é uma conseqüência...

MÉDICO DEFENDE DISCIPLINA SOBRE ESPIRITUALIDADE EM FACULDADES
Aureliano Biancarelli
da Folha de S.Paulo

Médicos espiritualistas defendem que escolas de medicina incluam em seu currículo uma disciplina sobre "medicina e espiritualidade". Não confundir com "cirurgias espirituais" nem com operações "milagrosas" atribuídas a médiuns que incorporariam cirurgiões, como o "dr. Fritz".

"Nós estamos ficando para trás, especialmente num país riquíssimo em cultura religiosa e espiritual", diz o clínico Sérgio Felipe de Oliveira. Segundo ele, nos EUA há 50 escolas médicas que já incluem a espiritualidade nos seus cursos, 19 delas com apoio do Instituto Nacional de Saúde.

Oliveira preside a Associação Médico-Espírita de São Paulo e é um dos organizadores do 4º Congresso Nacional da Associação Médico-Espírita do Brasil, que está acontecendo em São Paulo.

"Elaboramos um dossiê demonstrando que já há produção científica suficiente para que o tema seja incluído nas faculdades." Estes estudos, segundo o médico, comprovariam que a espiritualidade, em qualquer das suas formas, pode colaborar para a cura. Do congresso de São Paulo participam cerca de 1.200 médicos, "de vários países e várias religiões", diz Oliveira. No Brasil, há cerca de 12 mil médicos filiados às associações dos vários Estados. Os filiados são todos espíritas kardecistas. Eles alegam que o espiritismo é uma "doutrina ecumênica", que engloba todos aqueles que pensam de forma positiva.

"Não é necessário acreditar em Deus para ter religiosidade", diz a médica Marlene Nobre, presidente das associações nacional e internacional de médicos espíritas. "O mais importante é ter uma ação positiva diante da vida."

Regina Parizi, presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, afirma que o CRM vê "a religião como outro instrumento de auto-ajuda, como a psicanálise". "Achamos que espiritualidade pode trazer conforto psicológico e contribuir para a cura. Mas achamos que a religião é uma questão pessoal, não de currículo escolar."

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